Créditos: Clarissa Reche

A vida tem seus mistérios, e talvez o corpo que sangra, que pulsa tesão e revolução, que pari, flui leite das tetas, emana cheiros e fluidos, bicho selvagem, que a norma quer coibir e o grito da profundeza oca não deixa encerrar. Talvez e só talvez, essas corpas sejam um dos grandes mistérios que a vida não sabe explicar e a ciência insiste em definir. 

Aquela ciência construída por homens brancos e europeus, sabe? Insiste em enquadrar, classificar e definir “a mulher”, “a fêmea” com base em uma anatomia cujas materialidades e discursos não são convincentes o suficiente. 

Boa para casar! Boa para parir! Boa para cuidar! Bela, recatada, do lar. Uma hipocrisia sem fim. 

Menstruação dói? Sangria inútil! Ovários não funcionam bem? Pílula faz milagres! Útero doente? Você não precisa dele tanto assim, vamos tirar! Histérica? O clitóris nem serve pra muita coisa mesmo! 

Corta. Puxa. Tira. Costura. Sangra. Dói. Dói. Dói. Chora… 

Sentimento de inadequação, culpa e sofrimento. Até quando?  

O sublime seria a manifestação que nasce da dor… essa capacidade de transformar nossos traumas, dando novos significados a eles. E que bonito seria poder dedicar a vida a ressignificar um tanto de acontecimentos que nos subjugam? 

Existir sendo resistência!  

A Revista Sangro nasce desse desejo de sublimar a menstruação e as experiências que envolvem ser um corpo que sangra em uma sociedade colonialista e capitalista, misógina, sexista, transfóbica, racista e capacitista, criando novas referências, tecendo histórias mais amorosas e resgatando conhecimentos apagados.

A Revista é fruto da disciplina “Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia: Feminismos, Menstruações e Direitos Reprodutivos”, oferecida no primeiro semestre de 2025, para os cursos de pós-graduação em Ciências Sociais e Divulgação Cultural e Científica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Um curso de internacionalização, em formato híbrido, oferecido pelas professoras Clarissa Reche, Daniela Manica, Janaina Morais, da Unicamp, e por Cecília Rustoyburu, da Universidad Nacional de Mar del Plata.

A nossa proposta foi proporcionar um espaço seguro e respeitoso para debatermos assuntos que nos atravessam, oferecendo uma compreensão aprofundada das principais discussões no campo da menstruação e direitos reprodutivos, através de uma perspectiva feminista dos estudos sociais da ciência e tecnologia. 

Buscamos realizar um panorama das principais pesquisas que estão sendo desenvolvidas na América Latina sobre o tema, em especial no Brasil e na Argentina, com foco em abordagens que privilegiaram perspectivas decoloniais e emancipadoras. Assim, a cada encontro uma pesquisadora latinoamericana das áreas da antropologia, sociologia e história teve a oportunidade de apresentar seu trabalho e dialogar com estudantes, em um ambiente que permitiu não só reflexões extremamente relevantes para o campo, como também foi capaz de promover transformações pessoais e coletivas importantes.

Falamos sobre menstruações levando em conta sua diversidade, levando em conta experiências indígenas, afrocentradas, transreferenciadas, e problematizando as narrativas hegemônicas, científicas e biomédicas, que confinam a menstruação ao ciclo reprodutivo cisheterocentrado. Conversamos também sobre temas afins como amamentação, maternidades, aborto e contracepção. 

A Revista Sangro é o transbordamento desses encontros… confluindo produções textuais e artísticas de docentes e discentes da disciplina. 

Convidamos você a este mergulho! Vamos?

FICHA TÉCNICA

 

Identidade Visual: Pedro Silva e Clarissa Reche

Webdesign: Clarissa Reche