Os modos de Raurtsnem: um ritual Sonacirema Sonital

Por Laura Nice Dias da Silva

O objetivo deste ensaio é contribuir com os estudos culturais sobre um grupo de pessoas localizadas ao sul do continente americano, o povo Orielisarb, do clã Sonaciremas Sonital. O antropólogo Horace Miner, seguindo estudos anteriores realizados pelo Prof. Linton, publicou em 1976 o ensaio “Os ritos corporais entre os Nacirema”[1], no qual detalha algumas das práticas e crenças mágicas realizadas por um grupo localizado no continente norte-americano. 

Neste texto, o autor pontua a necessidade de avançar e aprofundar os estudos sobre a cultura Nacirema. Nota-se variações que precisam ser consideradas quando comparamos Naciremas e os Sonaciremas (Sonital) e acomodações temporais e culturais que precisam ser feitas. Dentro dos estudos de parentesco, seriam equivalentes a um outro clã da mesma tribo. Assim, a intenção deste ensaio é trazer uma contribuição inédita e pontual sobre um ritual específico: os modos de Raurtsnem, como ele ocorre e suas particularidades, além de desdobramentos e possíveis significados culturais e sociais.

Importante dizer que, apesar de ser antropóloga de formação (IFCH/Unicamp) e, atualmente, mestranda pelo Labjor (IEL/Unicamp) minha experiência acadêmica é diferente dos antropólogos que cito. Escrevo este artigo complementar ciente que o meu fazer científico é outro, tanto historicamente, como pelo modo feitura. Me coloco no texto como pesquisadora no processo de fazer, participante e agente no próprio processo. Faço ciência com proximidade ao objeto de pesquisa, mas ainda sim, busco de forma sistemática e metodológica entender este povo. Ciente que enxergo seus hábitos pelo viés que ocupo no mundo. A coragem de fazer este texto veio frente às descobertas e aprofundamento do olhar antropológico durante o Mestrado, com auxílio da disciplina Socioantropologia da Ciência e Tecnologia e das trocas frequentes com pares, pesquisadoras e cientistas. 

Voltarei a  alguns pontos chave do ensaio da década de 1970 pois há especificidades e paralelos importantes que precisam ser retomados. De qualquer forma, deixo registrada a indicação de leitura do ensaio do Prof. Horace Miner, disponível online, como composição dialógica deste.

Primeiro, destaco que, assim como os Nacirema, pouco se sabe sobre a origem dos Sonacirema Sonital e como há muitos clãs Sonital, esta pesquisa se limita ao povo Orielisarb. Entre estes, a tradição relata que há uma mistura de três etnias diferentes. Sendo uma do leste, outra que já estava espalhada pela terra e, a terceira, que foi trazida pelo sistema de economia de mercado. A mitologia deste povo costuma ser narrada pela pacificidade, simpatia e abertura para com o diferente, mas nota-se uma dificuldade coletiva de enxergar o sadismo que opera muitas das suas relações e rituais. Esta tendência sádica já tinha sido observada pelo Prof. Linton e reiterada pelo Prof. Miner que esperava a realização de um estudo completo, justamente para provar um modelo comportamental muito interessante dos limites sociais humanos (idem Miner, 1976:2).

Nos meus estudos, percebi outra crença fundamental no sistema Sonacirema: de organizar e classificar o que existe no seu ecossistema em opostos ou pares. De maneira estrutural, é latente a importância binária para esse povo. Como uma forma de organização sistematizada, são comuns as separações serem feitas em dois grupos e se alterarem conforme os critérios que estão em disputa [2]. Há expansões possíveis que dividem a binariedade em subtipos criando cruzamento de possibilidades [3]. 

Estas possibilidades de subcategorias que se intercruzam permitem um deslocamento da experiência do modo de Raurtsnem. E, para este ritual específico, há ainda que se considerar que não é toda e qualquer pessoa que o executa. Há limitações físicas, variâncias fisiológicas, possibilidades de agência e escolha que podem impedir a sua realização. Todo esse grau de variância pode ser muito confuso para aqueles que estão acostumados a sistematizar a compreensão de mundo pelo viés da binariedade. Como pesquisadora, precisei de um tempo para entender as possibilidades de deslocamento e reorganização do Sonacirema. Assim, com fins categóricos e respeitando as estruturas do objeto de estudos, a binariedade referente a este ritual é realizada pela negativa: há o subgrupo Etnaurtsnem e o não-etnaurtsnem. Quem tem acesso aos rituais de Raurtsem faz parte do primeiro.

Para entrarmos em detalhes sobre os modos de Raurtsnem precisamos voltar aos santuários domésticos, mencionados pelo Prof. Miner, que visam desviar o corpo da fragilidade e doença. A quantidade de santuários construídos nas casas variam conforme o poder social da família [4] e a grande finalidade deste espaço sagrado é manter ou alcançar a limpeza plena, pois existe uma crença fortíssima entre os Sonacirema que a sujeira carrega também a doença. Assim, em um ritual diário, “cada membro da família, um após o outro, entra no santuário, inclina sua fronte ante a” película-de-encantamento [5], “mistura diferentes tipos de águas sagradas na pia batismal e procede a um breve rito de ablução” (Miner, 1976:2).

A versão doméstica deste santuário é construída para garantir tanto abluções completas, como em partes do corpo, sendo construído com três espaços principais e mais duas ferramentas auxiliares mínimas. O primeiro sítio é ocupado pela pia batismal, já mencionada, o segundo espaço tem a finalidade de lavagem corporal completa que pode ser feita por jatos ou represamento de água e o terceiro ambiente do espaço sagrado é que mais causa constrangimento: o retrete dejetório – base de descanso onde os Sonaciremas se concentram para expelir do corpo fluídos e sólidos impuros. Importante notar que é muito comum a repulsa social por estes materiais. Não à toa existe uma palavra no vocabulário deste povo que significa tanto excremento como fim do mundo [6]. Para evitar calamidades contagiosas, alguns indivíduos se fazem protegidos por uma ferramenta extra acoplada ao retrete: uma válvula asseada que permite a limpeza das partes poluídas por jatos de água purificantes [7]. 

Há várias ferramentas auxiliares presentes no santuário. Descreveremos mais duas. Apesar de não ser mais tão comum termos mais caixas-cofres acopladas sobre a pia batismal, como foi verificado pelo prof. Miner, há sempre um espaço específico para guardar poções mágicas e ferramentas ritualísticas. As caixas podem estar dispersas pelo santuário, suspensas na parede, no chão ou mesmo abaixo da pia batismal. Normalmente, acima da pia, encontramos outra ferramenta importante para muitos rituais, a película-de-encantamento, que nada mais é que uma membrana sólida refletora, capaz de manter um Sonacirema encantando por si mesmo por um longo período.

Para garantir a limpeza plena diária, cada Orielisarb precisa ficar inteiramente nu. No entanto, há extremo pudor com partes específicas do corpo. Assim, a ablução completa é considerada prática íntima para os Sonacirema, normalmente realizada dentro da segurança doméstica. Mas com as exigências laborais da economia de mercado fazem parte do cotidiano deste grupo, há versões coletivas do santuário, encontrada em espaços públicos. A maior parte destas garantem apenas lavagens parcial na pia batismal e acesso a retretes dejetórios, caso haja mais de um retrete disponível no santuário coletivo eles são divididos por vestíbulos, garantindo a privacidade individual durante os rituais mais íntimos. Caso haja pressão social para a irrigação e lavagem corporal completa em ambientes coletivos, justificadas por práticas de desporte ou comprometimento laboral aviltante, é possível encontrar alguns santuários coletivos que garantem lavagens completas por jatos de água.

Estes santuários coletivos normalmente tem seu uso dividido por uma binariedade tão arraigada aos costumes do clã que passou a ser compreendida como natural por muitos dos seus integrantes. O que causa dilemas e desconfortos sociais aos indivíduos que fazem parte de outros subtipos que cruzam possibilidades. Conflito intensificado pelo hábito do povo Orielisarb de fiscalizar o corpo alheio, seja nas suas partes, nos seus formatos ou nos seus usos. Há uma contínua e intensa vigilância sobre os corpos e em como estes devem ser e se comportarem individualmente e coletivamente.

É esperado de todo indivíduo uma lavagem diária completa. E que em cada exposição às sujeiras externas ou internas seja remediada por uma lavagem parcial do seu corpo. Caso não haja acesso à água, foram desenvolvidas outras tecnologias que asseguram, mesmo longe destes santuários, a sensação de limpeza parcial, garantindo conforto, sensação de bem-estar e proteção ao longo do dia. Este povo faz uso, por exemplo, de um gel translúcido, que, segundo eles, ao ser passado nas mãos garante a morte de pequenos inimigos intrusivos à saúde. Estes minúsculos seres povoam os espaços públicos e podem causar grandes danos e vulnerabilidades aos corpos da população. Há também outro artefato importante: pedaços de tecidos finíssimos, guardados em vasilhas maleáveis próprias, que armazenam um tipo de líquido purificante, que ao ser espalhado na pele, umedecendo-a, garante proteção extra de limpeza. Este último pode ser utilizado como artefato substitutivo inferior dos jatos de água purificantes. 

Os modos de Raurtsnem tem relação direta com os rituais de limpeza, por que algumas das pessoas Etnaurtsnem e a maior parte dos não-tnaurtsnem encaram o período ritualístico com um nível de estranheza e desgosto, chegando às vezes até a repugnância. Enquanto há outra parte que vê o ritual como possibilidade de expurgação e, consequentemente, de recomeço e liberdade.

O protocolo coletivo de adaptação às dificuldades colocadas pelo extenuante ritual é feito por um acordo não dito de passar pelo inevitável com o mínimo de reclamação possível. Há um esforço extenuante por parte Etnaurtsem de não demonstrar que estão passando pelo ritual. Parte do modo de operar o ritual é de esconder da maior parte dos seus pares que ele está sendo realizado. Apesar de que há sempre um grupo restrito, normalmente familiar e, preferencialmente, pertencente ao subgrupo Etnaurtsnem, que acompanham de perto a ciclicidade ritualística, como parte da rede de apoio aos esforços empregados.

 Fica evidente a colocação do Prof. Miner, sobre “a crença fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano é repugnante e que sua tendência natural é para a debilidade e a doença” (Miner, 1976: 1), assim, apesar do Sonaciremas dedicarem por muito tempo às atividades econômicas e uma grande parte do dia serem “dispensados em atividades rituais. O foco destas atividades é o corpo humano, cuja aparência e saúde surgem como o interesse dominante no ethos deste povo” (Miner, 1976: 1). Apesar deste interesse dominante e os modos de Raurtsnem terem correspondência direta com o corpo, é velada sua existência. Como um segredo público, Sonaciremas não costumam falar abertamente sobre o assunto.

Quando algum Etnaurtsem percebe o chamado para o início do ritual é feita a coleta de um artefato protetor, normalmente guardado em uma caixa no santuário doméstico da limpeza ou no santuário doméstico de descanso. É comum estes artefatos serem carregados em espaços públicos e coletivos, visto que às vezes há necessidade de executar o ritual em santuários coletivos. No entanto, caso haja surpresas e um ritualista não tenha consigo um artefato, existem redes de apoio invisíveis capazes de fazer uma pessoa Etnaurtsem abordar outra Etnaurtsem desconhecida para troca de artefatos. Importante dizer que as trocas, o transporte dos artefatos e as conversas que permeiam estas práticas são sempre discretas e longe dos olhos e ouvidos dos não-etnaurtsem.

Os artefatos têm suas variedades. Podem ser um pedaço de pano costurado, algodão em tiras fixado em um material plástico colante, talho de algodão amarrado por um fio, vestimentas íntimas reforçadas, uma cuia de silicone que pode ter o formato cônico ou oval, entre outros. Há uma grande variação de artefatos disponíveis atualmente e a economia de mercado mantém em constante atualização as possibilidades. Há sempre novos adereços a serem experimentados. Importante dizer que estes não estão disponíveis a qualquer Etnaurtsem, assim dentro do sistema econômico, as castas mais poderosas têm maiores possibilidades de escolha.

Estes artefatos precisam ser posicionados em contato direto ou dentro do corpo do Etnaurtsem, em uma das partes inferiores de exímio pudor público. Assim, para garantir a privacidade e os fins necessários, os modos de Raurtsem acontecem nos descritos santuários de limpeza. Os retretes servem como apoio para as trocas sistemáticas dos artefatos que precisam ser renovados de acordo com a quantidade de expulsão de fluídos rubros e do tempo de uso. Já os espaços de lavagem completa ajudam na renovação energética e purificação dos corpos que podem se sujar durante o ritual ou apenas precisam de uma dose de relaxamento frente ao extenuante processo ritualístico. A pia batismal garante a última limpeza, normalmente das mãos, antes de sair do santuário.

Como este é um ritual de expurgação de fluídos rubros do corpo e estes podem vazar para as vestimentas públicas das pessoas ritualistas, há um esforço contínuo de auto vigilância entre os Etnaurtsem. Assim, é comum, ao sair do santuário de limpeza, que se verifique uma última vez na película de encantamento se há qualquer vestígio de mácula ou que se acione, na rede de apoio invisível, a confirmação sobre a segurança da própria aparência, de modo que esta não evidencie qualquer sinal.

Por ser um ritual cíclico, seu reinício acontece de 28 à 35 dias, com duração média de 2 a 7 dias corridos. E há algumas especificações que conferem que os modos estão dentro da normalidade. Por exemplo, não é previsto que a pessoa ritualista sinta muita dor ou muito cansaço, apesar de que certo inchaço em diferentes partes do corpo podem ser esperadas. Os fluídos expelidos devem ser vermelho vivo, sem coalhos e em quantidade inferior à 80 ml por cada ritual completo.

Não é possível saber com certeza se os ritualistas são efetivamente praticantes ou não do ritual, apenas uma conversa franca e sincera com compartilhamento de intimidades prevê sua confirmação, pois ser um Etnaurtsem tem critérios e requisitos mínimos variáveis. Normalmente um ritualista tem idade que varia dos dez aos cinquenta e cinco anos, com margem para mais e para menos. É preciso ter um artefato biológico especial: o útero. Porém a existência dele não garante a eficiência do ritual, pois além de variações fisiológicas, há possibilidades de uso de poções e pílulas mágicas que interrompem a ciclicidade ritualística.

Apesar dos modos serem considerados normais e naturais para este povo, quando algo dá errado, os Sonacirema recorrem às caixas do santuário doméstico de limpeza, que guarda “os inúmeros encantamentos e poções mágicas sem os quais nenhum nativo acredita que poderia viver (Miner, 1976: 1)”. Caso haja comprometedoras variações no período, nas cores, na experiência corpórea e qualquer outro detalhe, é preciso que o indivíduo se consulte com um sacerdote-de-útero, em vias de recuperar as forças esperadas.

Assim como existe o sacerdote-da-boca, mencionado no texto de Miner (1976:3) o sacerdote-do-útero, tem uma coleção impressionante de instrumentos. Mas diferente do primeiro, o segundo não tem instrumentos que chocam pelo barulho de serra, pela habilidade de corte ou perfuração, seus instrumentos, mesmo que silenciosos, são inescrupulosos em forçar cavidades corporais para investigação detalhada de possíveis doenças e infecções. O ritual anual chocaria qualquer estrangeiro não iniciado. No entanto, fica espaço e sugestão para um próximo ensaio antropológico descritivo. A sacralidade e tradicionalidade deste outro ritual é evidente com a escolha deliberada das pessoas nativas voltarem ao sacerdote-do-útero anualmente, indiferentes ao desconforto da experiência que se repete.

Mesmo com as práticas mágicas dos modos de Raurtsnem não serem vividos e experienciados por todos, não há um só Sonacirema que não saiba que ele aconteça. As crianças, inclusive, passam por um período de transição e inclusão social sobre o tema, independente de ser um potencial Etnaurtsem ou não. Assim, considera-se de bom tom quando alguém deste grupo está passando por este período, que se respeite a importância e exigências do rito. Mesmo que sejam incomuns as conversas abertas sobre. Espera-se que este ensaio, disponibilizado também para o povo Orielisarb, contribua de alguma forma para os modos de Raurtsnem.

 

 

Notas

[1] MINER, Horacer. Os ritos corporais entre os Nacirema. In: ROONEY, A.K.; VORE, P.L. de (Org.). You and the others: Readings in Introductory Anthropology. Cambridge: Erlich, 1976. p.01 – 06. https://www2.unifap.br/poscult/files/2018/08/Texto_MINER_Nacirema.pdf 

[2] A Organização estrutural binária passou despercebida pelos professores Linton e Miner. Esta crítica aos trabalhos dos professores não é feita para deslegitimar meus antecessores, apenas chamo atenção para esta lacuna de análise. Provavelmente, ao se aproximarem do objeto de estudo, não souberam perceber o canto da sereia. A metáfora explica justamente a dificuldade de lidar com o material de campo coletado, os antropólogos foram “encantados” pelo que os nativos e povos estudados apresentaram e, assim, “cair em uma armadilha” e não enxergar para além do descrito, mesmo passando pelo processo metodológico rigoroso do fazer científico. Outro ponto importante é que a divisão binária também é muito comum na nossa própria cultura. Em exemplo simples, normalmente consideramos dois parâmetros para comprimento de cabelos: longos ou curtos – mesmo que haja outro grupo que use seus cabelos em tamanho “médio”. E há ainda uma outra binariedade possível, feita pela negativa entre quem têm cabelo e quem não têm cabelo (carecas).

[3]  Em um exemplo banal, pessoas que são carecas e cabeludas ao mesmo tempo, denominadas “calveludas”. 

[4]  “Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm muitos santuários em suas casas e, de fato, a alusão à opulência de uma casa, muito frequentemente, é feita em termos do número de tais centros rituais que possua. Muitas casas são construções de madeira, toscamente pintadas, mas as câmeras de culto das mais ricas têm paredes de pedra. As famílias mais pobres imitam as ricas, aplicando placas de cerâmica às paredes de seu santuário” (Miner, 1976:1).

[5] Em vias de manter o texto atualizado, alterei o termo “caixa-de-encantamento” para película-de-encantamento, visto que houve certa alteração nas normas deste espaço nos últimos cinquenta anos.

[6] ver: https://www.dicio.com.br/escatologia/ 

[7]  Anteriormente, os santuários domésticos tinham dois tipos de retrete, o dejetório e o higienizante. A válvula é uma substituição moderna ao segundo, garantindo uma economia nos espaços domésticos e necessidade constante de atualização de mercado.

 

 

Comentários da autora: 

  1. Fiz a escolha de usar alguns termos que me foram incômodos. Mas decidi por mantê-los para dar força à narrativa que brinca com o Menstruar na nossa sociedade e com o fazer Antropológico. Destaco “tribo”, que tem viés colonialista e presume uma linha evolutiva social, e “sistema de economia de mercado”, termo emprestado diretamente do texto de Miner, que poderia ser substituído por Capitalismo. A escolha de manter os termos procurou dar continuidade entre os textos e garantir o teor irônico de falar sobre nós, sem dizer explicitamente.
  2. Foi particularmente difícil e divertido escrever este texto. Revi minha formação acadêmica, repensei minha rotina e as formas de existir no mundo como menstruante brasileira, latino americana e mais uma vez fui lembrada da grande capacidade que as Ciências Sociais nos permite: de desnaturalizar nossa realidade e pararmos de entendê-la como única viável. Você sabia que há inúmeras formas sociais e individuais de experienciar a menstruação?

Laura Nice é mestranda em Divulgação Científica e Cultural (Labjor – Unicamp). Investiga as relações entre gênero e rede social, pelas lentes da análise de discursos digitais. Integra o grupo de pesquisa e-Urbano (LABEURB/NUDECRI). Especialista em Mídia, Informação e Cultura (CELACC/USP) e Bacharela em Ciências Sociais, com ênfase em Sociologia e Antropologia (IFCH/Unicamp).

Revista Sangro
Labirinto, Labjor, Unicamp
Junho de 2025