Pesquisando os primeiros casos de cura do HIV na perspectiva das ciências sociais

Nos últimos quatros anos, desenvolvi uma pesquisa de doutorado em ciências sociais que permitiu mergulhar em um tema fascinante: os primeiros casos de cura do HIV. Esses resultados surpreendentes foram alcançados por meio de transplantes experimentais de células-tronco de doadores com uma mutação genética chamada CCR5Δ32/Δ32, que confere resistência à infecção pelo vírus.
Após analisar mais de uma centena de documentos, observei que as primeiras curas do HIV podem ser apreendidas como acontecimentos na trajetória da pandemia de HIV/aids. Isso porque os casos considerados “promissores” renovaram as esperanças, engajaram práticas de pesquisa, promoveram novos debates, atraíram novos investimentos, entre outras mudanças significativas.
A pesquisa mostrou-se desafiadora em muitos aspectos. Foi preciso superar a insegurança de adentrar em novas agendas científicas, como HIV/aids, células-tronco e tecnociências. Isso incluiu percorrer e revisar uma vasta literatura científica em diferentes formatos, como livros, artigos, materiais de divulgação científica. Em suma, um trabalho dedicado a compreender as múltiplas frentes de atuação, a linguagem empregada, os conceitos explorados e assim por diante.
Nesse movimento, a pesquisa desenvolvida não se restringiu às ciências sociais, mas também incluiu a investigação de materiais densos das ciências biomédicas, como as interações entre o HIV e medicamentos antirretrovirais, características das células-tronco e práticas clínicas de transplantes celulares. Foi como aprender um novo idioma, onde precisei traduzir e me afetar por esses conhecimentos.
Ao longo desse processo, fui surpreendido ainda pelo fato de o tema da cura do HIV ser praticamente inexplorado pelas ciências sociais. Enquanto nas ciências biomédicas há um intenso debate sobre métodos e técnicas potencialmente curativas, os desafios de acesso aos “reservatórios virais” e controvérsias científicas, nas ciências sociais o assunto ainda carece de maior atenção. Isso me motivou a querer explorar essa lacuna e destacar a relevância científica, social e política desse tema.
Essa jornada de pesquisa ampliou as reflexões que tenho promovido há dez anos nos estudos sociais sobre corpo, sexualidade e gênero, ao introduzir novas problemáticas relativas à saúde e biotecnologia. Assim, busquei contribuir para a problematização das práticas terapêuticas experimentais que visam a cura do HIV. Considerando a sólida tradição socioantropológica em saúde e os estudos sociais da ciência e tecnologia, certamente mais contribuições podem ser oferecidas a respeito dessa temática.

Informações sobre a defesa da tese:

  • Data: 18/08/2023 (sexta-feira), às 14h
  • Local: IFCH/Unicamp, Prédio da Pós-graduação, Sala Teses I

Legenda da imagem: Manchete no jornal estadunidense The New York Times reportando o primeiro caso de cura do HIV, em 2008. Créditos da imagem: The New York Times.

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