Produzindo um podcast sobre a diversidade e o protagonismo de estudantes do ensino médio em Brasília – DF
A escola é um espaço preenchido por sonoridades, sejam aquelas intencionais, bem recebidas, valorizadas, ou aquelas silenciadas. Há a voz-fixa, da aula expositiva; há as vozes em diálogo, do debate de ideias. Não é raro o áudio aparecer como uma contravenção em sala de aula, principalmente vindo das estudantes. A fim de compreender como os exercícios de ouvir e produzir podcasts contribuem para o processo de ensino e aprendizagem de Antropologia, Sociologia e para o desenvolvimento de multiletramentos, realizei a pesquisa“Aprender sobre a cultura e diversidade que existe na nossa escola” – Produzindo e experimentando podcasts de Antropologia no ensino médio, sob orientação da professora Soraya Fleischer, no âmbito da graduação no Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília. Fiquei três meses participando das atividades em uma escola de ensino médio, na aula de Sociologia da querida professora Flávia. Neste tempo, produzimos 3 episódios curtos, integralmente com as vozes das estudantes: Marighella e a Ditadura Militar; Moda, cultura e identidade; e Histórias de estudantes, disponíveis apenas para a comunidade escolar.
Certo dia, durante a excursão de campo, aconteceu um evento que exemplifica bem como os interesses e culturas que estão para além da escola podem se articular neste ambiente, promovendo o protagonismo e a sociabilidade das estudantes. Um estudante do 3º ano do ensino médio promoveu um show de rap durante o horário de almoço. Esse estudante era conhecido como MC Venezza – havia ganhado esse apelido, que depois virou seu nome de MC, por conta do seu país de origem ser a Venezuela. Havia uma mesa de som e algumas caixas de som entre as mesas do refeitório, e o MC Venezza apresentou, com desenvoltura, algumas músicas de sua autoria, em castelhano, no microfone. As estudantes e professoras assistiram e aplaudiram o show. Um tempo depois, conversando com as estudantes, surgiu a ideia de entrevistar o MC Venezza em um dos nossos episódios de podcast.
Ao longo da convivência com as estudantes fui descobrindo mais sobre suas referências musicais e audiovisuais, coletando artistas com as quais se identificam, o que elas consomem dentro e fora da escola. Apresento detalhadamente essas referências na monografia. Mas vale destacar o caso de um estudante que se utilizou de multiletramentos ao dedicar-se para, em uma semana, ler o livro “Sobrevivendo no inferno” (ROCHA, 2021), assistir ao documentário “Racionais: das ruas de São Paulo pro Mundo” (2022), ouvir o álbum Sobrevivendo no Inferno (1997) e ouvir o podcast Mano a Mano. Além deste último, entre os podcasts mais citados estavam o Podpah e o Flow Podcast.
Não foi preciso muito tempo para perceber como as adolescentes são performáticas, expressivas e interagem em uma linguagem naturalmente youtuber e podcaster. A mídia podcast ajudou a contar como a voz traz emoção, inspira, traz sensação de liberdade, explicita identidades, cria vínculos entre as estudantes, instiga a imaginação, motiva a saber mais e está presente em diferentes momentos da aprendizagem escolar. E os microfones de lapela, mesmo de qualidade simples, promoveram o registro dos conhecimentos, das performances e das narrativas de futuro que as estudantes “espalham” por aí.
Descrição da imagem: Fundo da sala de Sociologia, colagem de árvore de palavras. Créditos da fotografia: Irene do Planalto Chemin.