Conferência de Encerramento: quando encontros labirínticos acontecem

Diversos encontros labirínticos aconteceram na última quinta-feira, dia 4/11, na conferência de encerramento dos Encontros no Labirinto com a Profª Tania Pérez-Bustos, da Universidad Nacional de Colombia. Com a apresentação “Cobijas: bordando cuerpos que escuchan”, Tania apresentou a história de duas mulheres e suas relações com as cobijas, as cobertas.

“Elas criam um senso de pertencer que pode produzir dignidade e cuidado nos momentos de perda e de falta de esperança. Neste continuum entre corpos e lares e pensando com cobertas, subjetivamente, pode-se ver como elas organizam pensamentos e sentimentos, lembrando-nos de um interior capaz desenhar bem-estar e de aspirar ao direito do cuidado.”

Ao trazer trabalhos em crochê, tricô, bordado e costura, Tania ativou memórias e lembranças nos espectadores. Eu mesma me lembrei das mantas de crochê feitas por minha avó e minha mãe, nas quais os quadrados coloridos crochetados são unidos, formando cobertas que são passadas de geração em geração.

 

Manta crochetada por Maria Eugênia, minha mãe.

Outro encontro foi a descoberta de que os caminhos de mesa também são chamados de labirintos em alguns lugares do Brasil. Confeccionados com linha e agulha, eles são colocados em cima das mesas como decoração. São, assim como as cobertas, elementos materiais que nos conectam às nossas casas, às nossas famílias e aos nossos antepassados.

“Ao contar as histórias de cobertas, de nossas cobertas, como objetos organizacionais, como tecnologias, narramos as histórias da vida, de nossas vidas, nesta narração refletimos sobre como chegamos até aqui. Assim as cobertas organizam memórias, nossas memórias, e reafirmam politicamente quem somos em relação a nós mesmos, a nós mesmas.”

Tecer, tricotar, crochetar, bordar, costurar são atividades presentes em praticamente em todos os lugares do mundo. Contam sobre lugares, culturas e são, acima de tudo, objetos políticos. Tania termina sua fala de forma a nos fazer refletir sobre o que é possível a partir de materiais tão presentes em nosso cotidiano.

“Pensar em cobertas através de sua transformação material enquanto são remendadas, marcadas, embelezadas, é também um convite para imaginar materialmente os possíveis futuros aos quais temos direito. Neste jogo entre o passado e o futuro, é possível dimensionar como a vida é organizada e se gesta”.

Uma das formas que nós, pesquisadores integrantes do Labirinto, encontramos foram esses Encontros. Como disse a Profª Drª Daniela Tonelli Manica, coordenadora do laboratório e mediadora da conferência, esse grupo é, “acima de tudo, um espaço de trocas sobre pesquisas diversas sobre a vida e suas tecnologias e também um espaço de acolhimento para a sobrevivência na universidade em tempos muito desfavoráveis.”
Nossos Encontros só foram possíveis por nossa esperança em dias melhores e pelo esforço coletivo. Se você perdeu algum Encontro ou a conferência de encerramento, todos estão disponíveis em nosso canal no YouTube.

Os Encontros no Labirinto foram uma iniciativa do Laboratório de Estudos Socioantropológicos sobre Tecnologias da Vida (Labirinto) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

 

Legenda da imagem de capa: Os restos de linhas também contam histórias sobre os bordados feitos
Créditos das imagens: Carolina Carettin

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