Carreira das mães pesquisadoras é mais prejudicada que a dos pais durante a pandemia de Covid-19

Imagem Mulher cientista

Neste 8 de março de 2021, Dia da Mulher, infelizmente não há motivos para comemorar

 

Até esse exato momento 262.948 vidas brasileiras foram perdidas para a Covid-19. Além de todos os males que a pandemia do coronavírus trouxe e ainda traz para a população global, a doença também está afetando a produtividade acadêmica de milhares de cientistas no Brasil. Porém, o prejuízo não acontece da mesma maneira para todos. A carreira das mães pesquisadoras é mais impactada negativamente do que a dos pais. E o problema se agrava entre as mães negras. É o que aponta a pesquisa Produtividade acadêmica durante a pandemia – efeitos de gênero, raça e parentalidade. O levantamento foi realizado pelo Movimento Parent in Science* com 15 mil cientistas, entre discentes de pós-graduação, pós-doutorandas(os) e docentes/pesquisadoras(es) no Brasil em abril e maio de 2020.
Vale ressaltar que quando falamos em cientistas/pesquisadoras/es estamos nos referindo além daquela pessoa imprescindível com jaleco branco dentro de um laboratório. Para nossa alegria, a Ciência é muito, mas muito mais ampla e abrange várias áreas de conhecimentos. Por exemplo, enquanto uns identificam as mutações da Covid-19 outros estão produzindo dados e estatísticas para auxiliar na tomada de decisões quanto ao enfrentamento da doença.
Passado quase um ano deste estudo, o Brasil é o segundo país no mundo onde mais pessoas continuam se contaminando e morrendo – ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Ou seja, a situação das pesquisadoras não melhorou desde então. Aqui, por conta do espaço, apresentaremos apenas os resultados da categoria estudantes de pós-graduação. Os demais dados podem ser conferidos na íntegra neste link.
O levantamento obteve respostas de 9.970 alunas (os) de mestrado e doutorado de instituições de ensino superior. Sendo, 53% mestrandas(os) e 47% doutorandas(os). Do total respondente, a maioria são mulheres (69,6%), seguida por homens (30,2%) e pessoas não binárias (0,2%). Quanto a raça ou cor, os responsáveis pelo estudo uniram pretas(os) e pardas(os) em um único grupo: negras(os). As(os) entrevistadas(os) se auto declararam: 62,7% branca(os), 32,5% negras(os), 1,5% amarelos, 0,4% indígenas e 2,9% não informaram.
Das mulheres entrevistadas, 31% são mães contra 69% sem filhos. Dos homens, 22% são pais e 78% sem filhos. No recorte mães e pais, por exemplo, o levantamento não informa se eles pertencem à família nuclear, recomposta, monoparental feminina ou masculina, homoafetiva, dentre outras. Um olhar atento para essas novas configurações familiares poderia proporcionar análises mais precisas sobre as carreiras acadêmicas delas e deles.
Embora as mulheres sejam a maioria na pós-graduação, só 27% delas conseguiram trabalhar remotamente durante o confinamento. Já 36,4% do total de homens deram sequência às suas atividades.
Em raça e parentalidade, as pós-graduandas mães negras (25,7%) estão em maior desvantagem. Só 9,9% delas tiveram condições de prosseguir com seus projetos enquanto 11,6% das mães brancas fizeram o mesmo. As negras (32,7%) e as brancas (35,1%) sem filhos mantiveram suas atividades. Os pais negros (18%) e os brancos (22,3%) continuaram trabalhando. Da turma “sem crianças por perto” cerca de 37,1% dos estudantes negros e 43,5% dos brancos garantiram a produção acadêmica.
Diante dos números, ainda que sem reflexões aprofundadas, é notória a desigualdade de gênero e raça na ciência brasileira. O estudo mostra que a produtividade acadêmica de homens brancos, especialmente os sem filhos, foi a menos afetada pela pandemia.
O período de confinamento social trouxe à tona um problema secular: o cuidado com a/o outra/o. Ainda a responsabilidade das(os) filhas(os) recaí sobre as mulheres. Por isso que esse debate é crucial. O que fazer? As universidades e as agências de fomento devem criar, sem muita burocracia, ações de políticas públicas de auxílio às mães na área acadêmica. E colocá-las em prática já. Viva a Ciência e as/os cientistas!

 

* Movimento Parent in Science foi criado em 2016 com o intuito de discutir sobre a maternidade e a paternidade dentro do universo da ciência do Brasil.
Crédito foto: Eye for Ebony/Unsplash

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